Depressão – Quem deve pedir ajuda?
As pessoas que sofrem de depressão são colocadas à frente de angústias quase que insuportáveis. Tristeza profunda, cansaço, grande irritabilidade, e sentimento de culpa são alguns desses sintomas. Elas por si só buscam inúmeras soluções para se livrar dessas perturbações mas muitas vezes se vêem impotentes diante de tanta dor e da percepção de tantas tentativas frustradas, o que justifica tamanha fadiga.
Muitas vezes essas pessoas não conseguem buscar um tratamento adequado, talvez pela sensação de falta de energia, talvez por medo de sentir ainda mais dor, ou até mesmo por reconhecerem-se doentes.
Os familiares e pessoas próximas podem não saber que a pessoa tem depressão e também, em muitos casos, nem as próprias pessoas sabem o que têm. É bastante comum nesses quadros a projeção de sentimentos da pessoa doente para com as pessoas próximas. Os sentimentos ruins, como os de culpa, são tão intensos que transbordam e a pessoa inconscientemente, pode “jogar” isso no outro. As relações se tornam pesadas e os acompanhantes (pais, mães, filhos, namorados, namoradas, maridos ou esposas, etc.) são colocados em posições que, em verdade, não são deles.
Como exemplo, há casos em que mães relatam que os filhos são a grande razão de suas tristezas, mas em verdade são apenas alvos de projeções de sentimentos depressivos. Estes filhos muitas vezes acabam por aceitar tais imposições de culpa o que gera também grandes sofrimentos neles. O mesmo pode acontecer inversamente, com filhos com depressão despejando tais sentimentos nos pais, ou de maridos fazendo o mesmo com suas esposas, etc..
Há também exemplos em que a pessoa com depressão identifica o outro como a única pessoa no mundo que pode ajudá-la ou compreendê-la. A priori pode até haver uma aceitação disso por parte do familiar, mas pode-se constatar em médio prazo que talvez seja muito difícil tomar para si tamanha responsabilidade. A relação pode se transformar também numa relação doentia cheia de mágoas e insegurança o que pode levar a um desgaste afetivo muito grande.
O que eu percebo, muito constantemente, nos trabalhos no meu consultório é a necessidade dessas pessoas acompanhantes também buscarem ajuda. A percepção de seu real papel na relação com a pessoa que está doente pode ajudar, e muito, a ambos.
O familiar, a partir da análise de seus sentimentos e comportamentos, pode perceber que está servindo como alguém que alimenta ainda mais a doença do outro, e assim, constata que suportar ou aceitar algumas condições também não ajuda. Pode então reconhecer, e exercer, a partir disso, sua devida função na relação familiar, não como um psicólogo, mas como marido, como filha, como mãe, etc.
Além disso, o fato de buscar ajuda demonstra humildade, é um reconhecimento de que talvez seja interessante se questionar. Essa pessoa, então, pode servir como um modelo, o que pode, a partir da identificação, motivar a pessoa que está com depressão a também buscar o mesmo tipo de ajuda.
Essa atitude pode ser a mais assertiva tentativa de se buscar um alívio para si e para o outro.